Ás vezes gostava de ser transparente...Daquela transparência incorpórea, daquelas que nâo se vê, não se sente, não se cheira. Como uma imagem perdida num vazio.Gostava de ser cristal de gelo e fundir em pequenas gotas. Gostava de me misturar com a terra. Cheirar a terra...Gostava de deslizar por entre as correntes de ar. Gostava de entrar por entre as frinchas das janelas, e agitar papéis em cima de uma mesa.Gostava de ser areia, para me tornar vidro.Gostava de ser um vitral numa catedral e escorrer com o peso da idade.Gostava de ser um lago em que se espelha a luz da lua.Gostava de ser o cristalino nos olhos de um milhão e ver o mundo por um milhão de olhos...Gostava de ser o vento que varre as folhas, para longe. Gostava de ser o fumo que sobe por uma chaminé, numa noite fria.Gostava de ser transparente e ser tudo, misturar-me com tudo...Gostava de ser uma explosão de nada e arrastar comigo o nada. Gostava de ser o nada que rodeia tudo.Gostava de ser impresente, irreal e continuar a existir.Gostava de ser onda e deslocar-me numa frequência só minha. Gostava de habitar os sonhos, ser sonho, perder-me por entre sonhos... Para depois voltar.Voltar de mansinho como brisa, passar por entre as frinchas e ocupar o vazio, incorporar no corpo que o meu ser deixou.Acordar e descobrir que és o tudo que o meu nada procura. Preencher a minha transparência,com cheiros, visões e sentidos... E deixar que se espelhe em mim uma opacidade, feita de camadas de ti...
Escrito a 07/03/2006. Estava na altura a apaixonar-me pelo meu marido, mas em luta comigo mesma.
Foi difícil voltar a amar...Estava dorida na altura, mas tu soubeste tocar-me.
1 comentário:
Ohhhh!
Que linda!
O meu pequenino coração de pedra enterneceu-se!
:)
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