terça-feira, junho 02, 2009

Amor de mãe


Amor de mãe


A necessidade básica emocional é a da dependência, de poder contar com o outro.


Nos primeiros meses de vida, o bebé precisa de alimento, conforto, colo, calor e afecto. Para suprir todas estas necessidades, é preciso uma mãe suficientemente boa, que o entenda com o coração e o instinto, e que esteja disposta a aprender o muito que ele também tem para lhe ensinar em termos de afecto, troca, partilha e sensibilidade.

Quando nasce, o bebé já traz uma vivência e uma história repleta de sensações, de memórias e de competências desenvolvidas no útero materno, acumuladas ao longo da sua vida fetal à medida que o seu sistema nervoso foi amadurecendo.

Hoje sabe-se que a mãe não é uma «desconhecida» para o bebé, muito pelo contrário. Nos longos meses passados no escuro, o feto conhece a voz da mãe, sente as palpitações do seu coração, o seu embalo e o seu estado de espírito.

A mãe, por outro lado, também desenvolve, ao longo da gravidez, uma relação particular, idealizada e muita íntima com o seu filho ainda por nascer.

A partir da primeira ecografia, invenção tecnológica revolucionária que possibilitou, entre outras coisas, que a mãe pudesse ver e acompanhar o desenvolvimento da criança em vários estádios da sua formação, são criadas as condições para que o laço afectivo se estreite entre mãe e filho, tornando-o ainda mais íntimo.

Por isso, quando o bebé finalmente nasce, e é colocado pela primeira vez nos seus braços, o laço afectivo já criado entre os dois prolonga-se num continuum de vida. Mas a realidade psicológica e física entre a mãe e o bebé muda necessariamente.

Desde logo, o contacto entre os dois passou agora a ser de «pele».Do imaginado passou-se ao sentido, olhado e ouvido, com tudo o que isso implica de mudanças emocionais e psicológicas para a mãe e para o filho. E, depois, o bebé passa a pedir cuidados e a depender da mãe para satisfazer necessidades básicas.

Para o bebé e a mãe, começa uma nova história e uma nova fase de vida. O bebé, que vive a sua primeira grande separação, encontra-se nesta fase totalmente dependente dos cuidados maternos.

Extremamente frágil, o bebé «tem uma infância muito mais longa do que a dos outros mamíferos», como afirmava a famosa pedopsiquiatra francesa Françoise Dolto.

Para sobreviver, precisa «do alimento, dos cuidados, do apoio e da mediação de uma criatura que o alimente e dê ao seu corpo calor e protecção». Na falta desta protecção prolongada, a criança «pode morrer ou estagnar, sem se desenvolver».

O espaço habitado e investido pela presença da mãe ou do primeiro cuidador é sentido como um espaço de segurança, e «o calor da voz que o faz sentir seguro, o contacto com as mãos que o tocam e seguram, e o ninho dos seus braços fortes» são essenciais para que se desenvolva satisfeito, apaziguado e feliz.

Dotado à nascença de um encéfalo muito desenvolvido, continua Dolto, o bebé tem «uma precocíssima função simbólica».

A mãe que cuida dele e lhe permite sobreviver atendendo às suas necessidades substanciais, é «apreendida através das suas percepções subtis olfativas, auditivas, gustativas e tácteis, tornando-se representação na sua memória de sensações revitalizantes essenciais, sentidas no seu corpo como alguém que apazigua as suas necessidades, as suas dores».

A função simbólica, que nos ajuda a compreender a dependência do bebé em relação aos pais e ao seu papel que estes detêm na sua satisfação e prazer, é «responsável pela particularidade de cada ser humano, segundo todo o tipo de modalidades impressivas que acompanham a sua sobrevivência e o seu desenvolvimento até à maturação completa do seu sistema nervoso, dos dezoito aos vinte e cinco meses», declara Françoise Dolto.

Texto de Ana Vieira de Castro

Revista Pais & Filhos

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